Marcos
Meier e Gislaine Coimbra Budel
Virou
moda chamar todos os professores de “mediadores”, mas uma grande parte não é.
Mediar não é o mesmo que interagir, não é o mesmo que ensinar. Mediação é muito
mais do que isso. De acordo com Reuven Feuerstein, um dos maiores educadores do
mundo, a mediação precisa ter algumas características muito especiais. Sem
elas, não é mediação, é apenas uma “interação”. Vejamos as três principais:
1 – Intencionalidade e reciprocidade
O
mediador precisa querer ensinar o conteúdo com tal paixão e decisão que fará tudo
o que estiver ao seu alcance para explicar da melhor forma possível. Adaptará a
linguagem para que a criança com deficiência realmente compreenda. Usará as
tecnologias disponíveis na escola para que o conceito se torne claro. Isso tudo
chamaremos de intencionalidade, que é a soma do objetivo com as todas as ações
possíveis para que o ensino seja realmente de qualidade. Além da
intencionalidade do professor, o aluno precisa desejar aprender. Isso se chama
reciprocidade. E o mediador usa estratégias adequadas para encantar o aluno
desde o princípio, para chamar sua atenção, para conquistar sua vontade de
aprender.
2 – Transcendência
Não
basta aprender para fazer uma prova. É preciso que se aprenda de tal forma que
seja possível aplicar o conceito construído em qualquer outra situação ou
contexto. A compreensão do conceito é tal que a criança passa a aplicar o
aprendido em sua própria vida e consegue explicar qualquer nova situação em que
o conceito esteja presente.
3 – Mediação do significado
Um
conceito realmente compreendido se interliga a outros conceitos já construídos
pela criança. O mediador precisa ajudar a criança a fazer isso, principalmente
uma criança com dificuldades de aprendizagem. Mediar o significado é mostrar
aos alunos onde se aplica o conteúdo recém-aprendido, de que forma esse
conteúdo aumenta a compreensão sobre outros fatos e como o conceito pode
ampliar a compreensão de mundo da criança. Tudo isso é mediar o significado de
um conceito.
Segundo
Feuerstein, um mediador sempre considera em suas atitudes essas três
características anteriores; no entanto, para que um mediador seja ainda melhor
é necessário que inclua outras nove características em sua interação com seus
alunos, incluindo as crianças com deficiências. Se as três características
estiverem presentes num professor, ele já pode ser considerado um mediador; no
entanto, se tal professor apresentar em suas atitudes as outras nove, ele será
um mediador ainda melhor.
Os
professores precisam receber formação continuada para que possam desenvolver
melhor sua metodologia. Sabemos que muitos professores já agem de acordo com as
características de mediação aqui defendidas, mas para que possam ser ainda mais
eficazes é importante que suas ações sejam conscientes e planejadas, e não
apenas fruto do acaso ou de experiências – ainda que bem-sucedidas. Precisamos
nos profissionalizar cada vez mais. Precisamos agir com nossos alunos sabendo o
que queremos e onde pretendemos levá-los com nossa ajuda, e em especial para
com os alunos com deficiências. Sem esses pré-requisitos iremos interagir com
eles, mas não saberemos se as vitórias ou fracassos dependeram mais de nós ou
das próprias crianças.
Inspirado
na obra Mediação da
aprendizagem na educação especial, de Gislaine Coimbra Budel e
Marcos Meier (Editora IBPEX, 2012).
Fonte: www.profissaomestre.com.br