O modelo de sala de aula tradicional já não funciona bem. Vivemos em
um período de transição, onde muitos professores sentem dificuldade em
atender às necessidades da nova geração. De forma mais clara, estamos
mudando de um modelo centralizador para um modelo colaborativo de
ensino. Os erros passam a ser um caminho para o acerto, e não o
determinante entre o sucesso e o fracasso. A padronização do ensino é
derrubada para dar espaço à personalização. Valorizaremos competências
novas nos alunos, como o pensamento crítico, a empatia, a comunicação, a
liderança, a ética, entre outras que são mundialmente conhecidas como
competências do século 21.
O computador com um bom sistema educacional é uma ótima ferramenta
para transformar a sala de aula em um verdadeiro antro da aprendizagem.
Porém, existem outros meios de inovar e que podem ser feitos sem o uso
do computador. Usando a gamificação, podemos implementar essas grandes
mudanças na educação que tanto queremos ao mesmo tempo que motivamos os
alunos.
Gamificação é um termo que começou a ganhar popularidade em 2010, mas
que já é usado de diversas formas há vários anos. Trata-se da
utilização de elementos e técnicas de jogos em contextos que não são
jogos, com a finalidade de aumentar a motivação das pessoas envolvidas e
resolver os problemas desse contexto. Evitem confundir jogos
educacionais com gamificação. Introduções feitas, vamos ao que
interessa.
Dica 1: Transforme as notas em conquistas
Notas são escalas que não dizem por si só se um aluno é ou não
proficiente no assunto. Pode-se argumentar que uma média 7 delimita a
aprovação e a caracterização da proficiência. Mas isso abre portas à
interpretação de que a nota 6,5 é uma “quase proficiência”. Não queremos
que os nossos alunos busquem uma nota, queremos que eles busquem a
proficiência em si. A conquista dessa proficiência pode ser representada
por uma medalha, carimbo ou estrela. O professor determina as
conquistas a serem alcançadas e fornece instruções sobre como fazê-las, o
que pode chamar de missões. Cada conquista deve ser atingível com
atividades curtas.
Por exemplo, fazer uma lista de exercícios sobre o Tiradentes na aula
de história pode ser a missão que tem como recompensa a medalha
“Inconfidência Mineira”. Para conquistar a medalha “Movimentos
Emancipacionistas”, o aluno deve conseguir um conjunto de medalhas, como
a já falada da “Inconfidência Mineira”, ou da “Revolução Pernambucana”,
entre outras. O professor seria o juiz que entrega os prêmios, mas pode
até delegar a responsabilidade a alunos que conquistarem o direito. As
conquistas, na verdade, devem coexistir com as notas tradicionais, mas
são apresentadas no lugar das notas como uma forma mais motivadora de
estudar.
Dica 2: Abra espaço para colaboração
O momento em que estamos fazendo uma prova é de pura concentração. É
comum observar os estudantes comentando e compartilhando as respostas ao
final da prova. Lamentamos cada erro cometido e desejamos voltar no
tempo para corrigir – é, também fomos estudantes um dia.
Acontece que aprender com os erros é uma excelente prática. Não
desperdicem este momento, professores. Façam o seguinte: cada aluno
assina sua prova com um código que só ele e o professor conhecem.
Realizada a avaliação, o professor corrige, mas marca nas provas apenas o
número de erros e de acertos. Em outro momento, devolve as provas aos
seus alunos, mas não para o dono. Nessa hora, cada um tem a chance de
aumentar a nota de algum colega, identificando e corrigindo os erros. As
regras sobre o peso da correção, a forma de correção, são determinadas
pelo professor. Uma terceira chance da mesma atividade pode ser
realizada, caso o professor queira. Imaginem só a alegria dos alunos em
conseguir notas melhores ao mesmo tempo em que aprendem melhor sobre o
assunto estudado!
Dica 3: Valorize competências e conhecimento no lugar de informação
Estudantes precisam muito mais de conhecimento do que de informação. A
informação está disponível gratuitamente para qualquer pessoa com
acesso à Internet. Assim, evitem passar para os alunos trabalhos que
podem ser feitos com uma simples busca no Google. Para isso, tente
envolver alguma das competências do século 21. A lista completa dessas
competências pode ser encontrada em matéria do Porvir.
Por exemplo, em uma aula de geometria, o professor
pode pedir aos alunos que construam, em grupo, alguma peça em madeira
que use os conceitos aprendidos em classe. Ou que os alunos de história
montem grupos e desafiem outros grupos com perguntas sobre o assunto
estudado. Uma simples tarefa de pesquisa tem muito mais valor quando se
limita o tamanho dos textos a serem entregues, obrigando o aluno a ler e
entender sobre o assunto, para então conseguir resumi-lo.
Dica 4: Introduza o elemento surpresa na aula
É certo pensar que as regras para aprovação em uma sala de aula devem
ser claras e iguais a todos. Porém, o professor, como educador, pode
modelar o sistema com o objetivo de melhorar a motivação e o aprendizado
dos seus alunos, desde que não prejudique ninguém com essas
surpresas. O sentimento de que, a qualquer momento, dependendo da sorte,
podemos ser recompensados de alguma forma, faz qualquer ser humano
ficar mais atento no seu ambiente. Esse elemento de surpresa e sorte
pode parecer completamente aleatório para o estudante, mas não precisa
ser tão aleatório na perspectiva do professor. Ninguém precisa saber que
o professor deu uma mãozinha ao aluno que ele acha que precisa de mais
motivação, não é verdade? Vejam alguns exemplos:
Chocolate surpresa: Fim de aula, o professor sorteia um aluno. Esse
aluno ganha um papel com uma pergunta escrita. Caso responda a essa
pergunta na hora, ele ganhará dois chocolates. Se levar para casa e
devolver respondida, ganha apenas um chocolate.
Convidado Especial: Levar um convidado especial para ajudar na aula.
Pode ser um engenheiro civil falando sobre como a matemática é usada no
seu trabalho diário. Ou levando um cachorro de estimação para ilustrar a
aula de biologia dos mamíferos.
Obviamente, não há respostas fáceis ou simples para os desafios que a
educação enfrenta. A única certeza, porém, é que precisamos
enfrentá-los de mente aberta, sempre prontos a tentar algo novo e
aprender rapidamente. Essas dicas vão nesse sentido.